Likes, controlo e deepfakes: o outro lado das redes chegou aos estudantes torreenses

No passado dia 26 de setembro, a Oeste Respira promoveu na Escola Secundária Henriques Nogueira, em Torres Vedras, a roda de conversa “Entre likes e violência: o verdadeiro impacto do mundo online”, um encontro inserido na campanha Bem-Me-Quer — “Cuida de Ti ao Longo da Vida”, que decorreu entre 10 de setembro e 10 de outubro.

Com um auditório repleto de estudantes, a sessão ganhou um tom direto, urgente e conectado à realidade dos jovens. O objetivo era claro: desconstruir os riscos da violência online e trazer ferramentas reais de prevenção, reconhecimento e ação.

Um painel que falou sem filtros

A conversa foi moderada por Vânia Cruz, da Unidade de Qualidade de Vida na Juventude da Câmara Municipal de Torres Vedras, e contou com:

Inês Marinho, ativista e fundadora do projeto Não Partilhes, deu voz ao impacto real da violência sexual digital, partilhando experiências vividas e ouvindo de perto as preocupações dos jovens presentes.

Num grupo do Telegram, com dezenas de milhares de pessoas, encontravam-se fotos íntimas de mulheres e meninas partilhadas sem consentimento — isto mostra que a violência digital extrapola o online e toca vidas reais.
— Inês Marinho

Rute Azevedo, da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG), apresentou dados e reforçou os canais de denúncia e apoio às vítimas de violência baseada no género e no espaço digital.

Começa muitas vezes ainda na barriga da mãe — a exposição precoce à violência deixa marcas invisíveis, mas reais.
— Rute Azevedo

Paulo Rossas, estratega digital da Lisbon Digital School, ajudou a desmontar a linguagem e os mecanismos das redes sociais, explicando como funcionam os algoritmos e de que forma estes podem potenciar comportamentos abusivos ou normalizar conteúdos perigosos.

Vivemos numa sociedade com discurso polarizado, e as redes sociais amplificam essa tensão — muitas vezes, o que era dito em privado, hoje explode em público com agressividade.
— Paulo Rossas

Riscos reais num mundo digital

Ao longo da sessão, abordaram-se fenómenos como o cyberbullying, o controlo digital em relações de namoro, a partilha não consentida de conteúdos íntimos e os deepfakes, numa linguagem clara e próxima da geração digital.

A conversa destacou ainda a importância de promover a literacia digital desde cedo, de capacitar pais, educadores e profissionais a reconhecer sinais de alerta e, sobretudo, de garantir que os jovens saibam que não estão sozinhos — existem recursos, apoio institucional e comunidades seguras onde podem ser ouvidos.

Uma comunidade que ouve — e responde

O evento reforçou o compromisso da Oeste Respira em trabalhar a prevenção da violência com uma abordagem integrada e próxima das comunidades, envolvendo escolas, famílias, técnicos e os próprios jovens como agentes de mudança.

A sessão terminou com perguntas dos alunos, vários momentos de partilha e reflexão em voz alta, mostrando que, quando há espaço para o diálogo, os jovens têm muito a dizer — e a ensinar.

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